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quarta-feira, 10 de abril de 2013

Horas mortas.Descansa a vila.
Brilha lua cheia,como sempre brilha...
Ao longe uma toada mineira,
alguém toca ao violão;
cachorros latem em dó maior.
Jovens voltam do baile em breve alarido
que logo se perde na escuridão.
E o domingo termina em paz...
.....................................................
Madrugada, enxadas aos ombros,
passam os obreiros dos campos,
e o aroma do café ocupa o espaço
no início de um novo tempo.
Crescem os ruídos nas calçadas,
portas que se abrem e se escancaram,
janelas coloridas abertas ao sol,
que ainda pálido galga a montanha
com ar de espanto;
récem-nascido dia,com sua cara
de infância...
O inconfundível cheiro de lenha
queimando no fogão que teima em existir,
traz à vila a lembrança do passado
que perpetua na memória
um tempo quase findo.
Contrariando "Pessoa" o dia não deu em chuvoso.
O capim umidecido de sereno
brilha em gotas de cristal...
Um cavalo relincha.
Passa o leiteiro com a carroça e seus latões de leite
e a cachorrada faz a festa atiçando o cavalo...
Agora é lida! Até a brasa do meio dia
Os sons da terra e os sons da gente,
risos,cantos,choros,gritos
latidos,cigarras, pássaros,
buzinas, pregões,motores...
Os cheiros: flores,bosta de cavalo,
carne assada,café,sempre o café,
bolo e pão quente,perfumes adocicados
e a fumaça da lenha...cheiro de roça
....................................................................
Fim de tarde!
Passam os obreiros dos campos,enxadas
aos ombros;
Nuvens rosadas e douradas em fundo azul
acolhem o guerreiro da eterna vida que
já se recolhe no horizonte...
as janelas ainda abertas acolhem as primeiras estrelas
Daqui a pouco, a noite desce de azul completamente.
Cessam os ruídos da rotina humana.
A vila adormece ao som da toada mineira
que o mesmo ou outro alguém toca plangente
ao violão...
Descansa a vila.


Guaraciaba Perides (2004)

No álbum de retratos

No álbum de retratos
meus pais ainda jovens
desfilam gloriosos
pelas páginas centrais.
E eu,ainda bem criança
abro meus espantados olhos para a vida;
E ali, em sestros calculados,
coberta de colares e miçangas,
repito sem saber porquê
os gestos de Carmem Miranda...
No album de retratos
parentes antigos e amigos imemoriais
permanecem estáticos como aprisionados
em um caleidoscópio gigante
e ali se perpetuam em sorrisos calculados
em olhares no infinito de outros tempos...
Na sequencia da corrente humana,
nas feições que se repetem,
nos perfis que se assemelham,
o sorriso de uma avó distante
reaparece na feição de alguma filha...
De repente,uma prima meio que esquecida
ressurge e faz lembrar sua presença
na foto ressequida.
Chapéus,lenços, fantasias e gravatas,
festas, reuniões,momentos de ilusão,
no olho mágico,se registra,no retrato
e em tudo permanece um pouco da paixão.
Aqui um jovem recebe seu diploma,
mais além, se registra um casamento,
de repente surge um batizado,
depois alguém carrega o neto amado...
E assim se passa a vida registrando a vida,
no álbum de retratos...

Guaraciaba Perides (2001)