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segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Além dos véus

O que se vê além
Das janelas e cortinas
O que se vê além
das falas e dos olhos
O que se expõe
atrás das palavras
além do sentimento
que se oculta
como vivendo atrás
de nuvens e de véus
Nada se esconde
atrás, quer de biombos
ou de muros,
tudo transparece no fugaz,
seja um sorriso, uma lágrima,
um balançar de ombros,
um aceno distante
ou um raio do olhar.
O outro compreende e intui.
pois além das cortinas e dos véus
estamos todos nus.

Guaraciaba Perides (2010)

quarta-feira, 31 de julho de 2013

Na casa do meu Avô

Da janela avistava-se a linha ondulada dos cafezais
E pela estrada de barro passavam os bois em carreata...
Na sala da frente minha avó ensinava letras
aos meninos da roça
No canto a moringa de água fresca sobre a toalha rendada
garantia a placidez da manhã...
No quintal, o doce perfume do jambo maduro
e as galinhas cumprindo sua função universal
Nas paredes do quintal cachos brancos de rosas miúdas
entremeavam-se às flores de São João e
que na minha meninice associava às letras
da música "Capelinha de melão"
Em tardes modorrentas o canto das cigarras
transpunha a condição do tempo que se anunciava
em badaladas claras e musicais do carrilhão,
misturando-se ao cheiro inesquecível dos biscoitos
ainda quentes, saídos do fogão ...
A cama de paina era para mim,menina,
a novidade mais gostosa,o bem mais almejado,
pois como um ninho me acolhia
e como braços ternos me abraçava...
Na parede da sala em formal retrato
uma mocinha com ares comportados,
ao lado um rapaz de olhos sérios, escondia
atrás de seus bigodes, a sua juventude...
Foram ambos o início dessa casa amiga
de tantos sonhos e tantas ilusões
perenizados numa prole imensa,
que colocou em cada um de nós,
um pouco de sua poesia,
de seu jeito de ser,seu coração...


Guaraciaba Perides - 
2001 
( memória de uma menina paulistana, em férias na década de 50, na casa de seus avós em Andradas no sul de Minas Gerais)

domingo, 26 de maio de 2013

Niilismo?

Abro o jornal
e ele Grita!
Cuidado!
Você pode morrer!
Você pode sofrer!
Você não pode deixar
Você não deve fazer
Você  não  deve dizer...
Cuidado!
Não olhe, não ouça, não fale,
Não coma, faz mal!
Não durma, faz mal!
Não beba, não fume,
Não sonhe...
Você está gordo, você está feio,
Você não tem auto-estima
Você está com medo!
O mundo está acabando...
Você deve correr..."Corra,  Lola, corra"
É o filme do Ano
(De olhos bem, abertos,
não se deixe enganar)
A Bolsa que sobe, a Bolsa despenca,
O dólar fugiu... na grande fuga dos capitais.
O boom do Mercado, adeus mundo cruel!
Eles querem roubar o seu sonho,
a sua ilha de paz, o seu canto de amor...
Aquele que você vai pagar até o final dos tempos...
O mundo está esquentando!
O mundo está derretendo!
O mundo está se desfazendo!
No inverno...nunca foi tão frio!
No verão...nunca foi tão quente!
Nunca choveu tanto!
O mundo vai virar um deserto...
"E agora, José?"
Agora, que os corruptos, os ladrões,
os farsantes, os políticos,
ameaçam a sua vida...apenas...
Fecho o jornal,
Tomo  meu café,
Abro a janela e
ouço o cantar do sabiá do dia...
Hoje é domingo,
lá vem um beija-flor
saudar a rosa que se ergue
no canteiro do pedaço de chão
ainda livre da fome do concreto.
Coloco uma canção que
faça bem aos meus ouvidos.
E pelo menos, por enquanto, neste instante,
Vai-se fazer a Paz,
a " começar em mim"!

Guaraciaba Perides (2010)

Nuvens

Nuvens

Sonho,nuvem que passa
Sonho que o vento traz
e também leva consigo
um sonho que se desfaz
Outras nuvens,outros sonhos,
muitos motes de canções
passam breve,logo a brisa
não demora,novas nuvens,
novos sonhos já serão...
Sonho fugidio,como uma nuvem que passa,
corre atrás de seu sonho
antes que no ar se desfaça.
Olhe com muito carinho
a trajetória que faz
e se ele for descuidado
faça com ele um brinquedo
e dele não tenha medo
pois o sonho é seu caminho
e da vida, o seu melhor...
Como criança deite no chão,
olhe para o céu,vê a nuvem passar...
e de repente veja um castelo
que vira bicho, que vira um velho,
que vira mar...
Sonho, nuvem que passa
sonho que o vento traz
e também leva consigo
um sonho que se desfaz...

Guaraciaba Perides (2006)

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Horas mortas.Descansa a vila.
Brilha lua cheia,como sempre brilha...
Ao longe uma toada mineira,
alguém toca ao violão;
cachorros latem em dó maior.
Jovens voltam do baile em breve alarido
que logo se perde na escuridão.
E o domingo termina em paz...
.....................................................
Madrugada, enxadas aos ombros,
passam os obreiros dos campos,
e o aroma do café ocupa o espaço
no início de um novo tempo.
Crescem os ruídos nas calçadas,
portas que se abrem e se escancaram,
janelas coloridas abertas ao sol,
que ainda pálido galga a montanha
com ar de espanto;
récem-nascido dia,com sua cara
de infância...
O inconfundível cheiro de lenha
queimando no fogão que teima em existir,
traz à vila a lembrança do passado
que perpetua na memória
um tempo quase findo.
Contrariando "Pessoa" o dia não deu em chuvoso.
O capim umidecido de sereno
brilha em gotas de cristal...
Um cavalo relincha.
Passa o leiteiro com a carroça e seus latões de leite
e a cachorrada faz a festa atiçando o cavalo...
Agora é lida! Até a brasa do meio dia
Os sons da terra e os sons da gente,
risos,cantos,choros,gritos
latidos,cigarras, pássaros,
buzinas, pregões,motores...
Os cheiros: flores,bosta de cavalo,
carne assada,café,sempre o café,
bolo e pão quente,perfumes adocicados
e a fumaça da lenha...cheiro de roça
....................................................................
Fim de tarde!
Passam os obreiros dos campos,enxadas
aos ombros;
Nuvens rosadas e douradas em fundo azul
acolhem o guerreiro da eterna vida que
já se recolhe no horizonte...
as janelas ainda abertas acolhem as primeiras estrelas
Daqui a pouco, a noite desce de azul completamente.
Cessam os ruídos da rotina humana.
A vila adormece ao som da toada mineira
que o mesmo ou outro alguém toca plangente
ao violão...
Descansa a vila.


Guaraciaba Perides (2004)

No álbum de retratos

No álbum de retratos
meus pais ainda jovens
desfilam gloriosos
pelas páginas centrais.
E eu,ainda bem criança
abro meus espantados olhos para a vida;
E ali, em sestros calculados,
coberta de colares e miçangas,
repito sem saber porquê
os gestos de Carmem Miranda...
No album de retratos
parentes antigos e amigos imemoriais
permanecem estáticos como aprisionados
em um caleidoscópio gigante
e ali se perpetuam em sorrisos calculados
em olhares no infinito de outros tempos...
Na sequencia da corrente humana,
nas feições que se repetem,
nos perfis que se assemelham,
o sorriso de uma avó distante
reaparece na feição de alguma filha...
De repente,uma prima meio que esquecida
ressurge e faz lembrar sua presença
na foto ressequida.
Chapéus,lenços, fantasias e gravatas,
festas, reuniões,momentos de ilusão,
no olho mágico,se registra,no retrato
e em tudo permanece um pouco da paixão.
Aqui um jovem recebe seu diploma,
mais além, se registra um casamento,
de repente surge um batizado,
depois alguém carrega o neto amado...
E assim se passa a vida registrando a vida,
no álbum de retratos...

Guaraciaba Perides (2001)

sábado, 23 de março de 2013

Raízes Coloniais


Tarde no passeio público
Desfilam senhorinhas em pelicas,
cuidando de seus trajes em seda
e de suas tranças negras.
São pálidas como convém
às donzelas bem nascidas,
levam sombrinhas rendadas
que lhes ornam os rostos,
delicadas flores européias
no calor dos trópicos...
O que sonham? Mistério.

Passam ao largo escravos semi-nus
carregando fardos e tonéis.
Mulheres negras em algodão grosseiro.
branco encardido, vermelho descorado,
cuidam da lida da compra de alimentos...
Seus dentes brilham ao sol, bem como,
a pele de cujo suor escorre,
dando lustro à pele escura...
Alguns cantam músicas
em outras línguas,
outros gargalham no riso debochado.
O que dizem? Mistério

Soldados cuidam da ordem pública
montados em cavalos imponentes que
Passam pisando duro nas pedras das calçadas.
Do alto de suas montarias olham com desprezo
a escravaria,
e nem ousam olhar as donzelas do passeio...
O que pensam? Mistério

Bimbalham os sinos das Igrejas
anunciando horas,
passa o ministro de Deus,olhos vazios,pensamento oculto.
Correm crianças para beijar-lhe a mão, que distraído
vai lançando bençãos...
O que sente? Mistério

À porta das bodegas cheirando à cachaça
homens do povo vão dizendo graças
à mulher que passa...
À porta dos salões mais finos
homens de classe lançam cobiças
às donzelinhas puras
que entre sussurros contabilizam castas
à espera de maridos que lhes deem
as graças,de continuar em sedas,
perpetuando a raça...
O que esperam? Mistério.

Guaraciaba Perides (2009)

sexta-feira, 8 de março de 2013

O tempo de Alice


O TEMPO DE ALICE

Alice tinha olhos castanhos
Cabelos em ondas,
Trajava-se em rendas
e tocava piano.
A noite em sua varanda
sonhava seu príncipe.., à luz de uma lua cheia..
..............................................................................
Alice tinha olhos castanhos
Cabelos em pega-rapaz,
de seda franjada,de joelhos torneados,
amava as noites de Bandas de Jazz.
E de sua longa piteira....sonhos evolavam pelo ar...
............................................................................
Alice tinha olhos castanhos
Cabelos que em ondas lembravam o mar,
com sonhos de liberdade,
acreditava na igualdade entre o homem e a mulher.
E enquanto curtia a natureza,parto natural e outros que tais,
ia cantando com beleza um hino ao por do sol...
..........................................................................
Alice tem olhos castanhos
e o cabelo da cor do seu desejo.
Veste roupa de couro se assim o quizer,
tira o som de sua guitarra
que lhe faz a emoção transbordar...
E para ela a liberdade é um mito
e no fundo ela quer apenas amar
Como sonhavam as Alices de todas as Eras,
Alice menina,Alice mulher...

Guaraciaba Perides (2006)

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

O Andarilho


O Andarilho


Andando pelas estradas
sempre para qualquer lugar.
Enorme na estatura, forte na compleição,
sempre de roupa branca
encardido pela poeira do chão;
chapéu de abas largas e alpercatas nos pés.
Andando...
Visitava os parentes,
almoçava num dos irmãos,
descansava e saía a andar...
Passava pela fazenda de
um outro primo distante,
(parentes não lhe faltavam),
onde jantava, dormia e logo
ao romper da aurora,
partia para outro lugar.
Passou a vida andando,sem casa,
pousando aqui ou acolá...
Quando herdou algum dinheiro
tomou um trem na estação
e se pôs a viajar,
conhecendo o que podia
até o dinheiro acabar.
Da irmã ganhou um relógio,
vendeu, pois segundo dizia
"que a hora não lhe importava,
pois tinha o sol e as estrelas para o tempo marcar"...
Arranjaram-lhe um casamento
para ver se sossegava,
mas, qual o que,não houve jeito,
a noiva ficou a esperar.
Pelas estradas andava,
levava notícias de todos,
da parentela distante,
boa acolhida não
lhe chegava a faltar...
Excêntrico, é verdade,
diziam sempre em desculpa,
mas o que lhe ia no peito,
o que lhe afagava a alma,
quem me contava esta história,
nunca pode imaginar.
Ficou como lenda viva
na história dessa família
e eu, que agora lhes conto,
era ainda muito pequena,
mas trago uma vaga lembrança,
daquele gigante que vinha
vestido de branco e chapéu,
caminhando pela estrada...
Personagem de enredo,
volúpia de liberdade,
andando de léu em léu...

Guaraciaba Perides (2010)

domingo, 10 de fevereiro de 2013

Quantas Rosas - Segredo - Fantasia

Quantas rosas (canção)

Fosse o poeta de tempos de outrora
seriam rosas singelas donzelas.
Fosse o poeta de gostos noturnos
seriam rosas mulheres do mundo.
Fosse o poeta gentil cavalheiro
Seria delas fiel escudeiro.
Fosse o poeta ainda menino
veria nelas seu doce mistério.
E assim se fazendo de rosas
mulheres são todas de encanto e magia,
paixão do poeta que nelas encontra
a razão de viver e delas se inebria...
Quantos poetas,quantas rosas, quantas!

Guaraciaba Perides  (2003)



Segredo

Há portas que não devem ser abertas
Há cofres que devem ser trancados
Há caixas que precisam do mistério
Há sonhos que melhor, guardados.
Aquieta o coração no seu segredo
e o pensamento por si só ,ficando oculto,
deixe que apenas à superfície se revele
o que pode partilhar o mundo.

Guaraciaba Perides (2008)

Fantasia

Inserida em um quadro uma paisagem
e nela um campo de centeio,
o vento que move as folhas da seara
é o mesmo que brinca em teus cabelos.
Olho nos teus olhos e minha imagem
reflete dentro deles e me sorri;
pego em tuas mãos e juntos penetramos
nas tintas ainda frescas do pincel.
Por entre matizes de diversas cores
somos o azul e o amarelo que se esfumam
por dentro da pintura que recria
a realidade natural do sonho.
E de repente, a dançar me vejo
rodopiando contigo na paisagem...
É o nosso amor que se transpõe no espaço,
dá colorido novo ao campo de centeio
e na delirante fantasia que componho
somos felizes como nunca fomos.

Guaraciaba Perides (2001)

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Olhos na tarde - Olhos da noite


Olhos na tarde

Há sempre um olhar na primavera
Na tarde que se esvai em outro tempo
Há sempre um olhar que é para sempre
Certeza de uma alma num momento

E nos olhos da tarde,sol ardente,
O céu em que se espelha é mais azul
E na paisagem como se desdobra
Em planos facetados de diamantes

Teria sido apenas fantasia,
Teria sido apenas alegria
da vida em uma tarde plena?

Ou o eterno presente que inicia
o girar de novas primaveras...
Olhos na tarde,novas histórias...

Guaraciaba Perides (2004)

Olhos da noite

luzes de neon
no brilho molhado das calçadas
uma noite morta...

Dormem trepadeiras
nas varandas dos edifícios
semáforos de olhos verdes,
vermelhos,
amarelos
piscam para os passantes
que velozes correm para algum lugar...
Faz frio na cidade!

sonâmbulos perambulam
como se vivessem em sonhos
e alguém gargalha numa esquina...

As flores do Arouche
espiam de pétalhas esbugalhadas
e outras flores caminham pelas calçadas
à espera de serem colhidas pela madrugada...

Delírio, mano, dizem os "raps" da noite!

Viadutos desertos
cobrem de cinza
o tempo de agora
e das fogueiras dos mendigos
a miséria úmida e alcoolizada "dos perdidos
pela noite suja".

As igrejas estão fechadas:
os pastores dormem o sono dos justos...
Os Anjos da Madrugada
correm pelos becos,
pelos bares,pelas ruas dos desabrigados.
Deslizando pelo neon molhado das calçadas,
abençoando os tristes
em nome de Deus...
Faz frio na cidade!

Guaraciaba Perides (2004)

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Nem que seja

Nem que seja 

Quantos sonhos a realizar
Quantas emoções dentro do peito
Quantos beijos ainda a dar
A vida tem que dar um jeito...
O sol brilha lá fora
E o verde permanece,
a chuva que não veio
E a rosa que fenece...
No entanto, sopra a brisa
Que tão leve eterniza
O dom de existir
no aqui e agora.
Mesmo que seja
pra viver dentro de um sonho
Abre as janela da alma
e vive,
nem que seja,por um instante,
dance,
Nem que seja por um minuto,
escute,
nem que seja, por agora,
cante,
nem que seja, em segredo,
ame.
Assim seja...

Guaraciaba Perides (2010)