Luz,
A percepção de que o universo e a própria existência são tecidos por um princípio de ciclicidade é uma das chaves profundas para decifrar o mistério da vida. Esta ideia transcende a noção linear de tempo e revela uma estrutura onde o fim é sempre um novo começo.
A ampulheta, não apenas um medidor, mas um elemento místico. O ato de virá-la é um rito de passagem: a areia que desce e simboliza o tempo que se esgota é, magicamente, a mesma areia que, ao ser invertida, inaugura um novo ciclo. Representando o eterno retorno, a constante renovação onde a morte é apenas o anúncio de uma nova forma de vida.
Essa visão de que tudo é renovado ,a infância que se torna juventude, os processos de formação que se concluem e se iniciam em patamares mais altos, ressoa com o conceito do Eterno Retorno. Para o filósofo, a aceitação de viver cada instante como se fôssemos obrigados a revivê-lo infinitamente não é um fardo, mas a maior afirmação da beleza da vida.
O universo, visto como uma entidade em constante transformação e repetição de padrões, encontra eco nos estudos sobre o Tempo Mítico. Que como as culturas antigas buscavam constantemente reentrar no tempo sagrado e primordial, por meio de rituais que repetiam a criação uma busca pela anulação do tempo profano e a reinserção na perenidade do ciclo cósmico.
A ciclicidade não implica uma repetição idêntica, mas sim uma evolução. E, muitas vezes, para que a espiral ascendente avance, é necessária uma ruptura. Essa quebra de ciclo, por mais dolorosa que seja, não é um colapso, mas uma oportunidade de salto. É o momento em que se condensam múltiplas experiências em uma única travessia, levando o indivíduo a um novo e mais alto patamar de consciência.
Essa coragem de romper e se auto aceitar em um novo caminho foi vivenciada por Carl Gustav Jung. Próximo dos 50 anos, ele enfrentou uma profunda crise e precisou concretizar a ruptura com Sigmund Freud. Esse movimento, que lhe custou a solidariedade de muitos, foi essencial para que ele se libertasse do papel de "discípulo herdeiro" e construísse sua própria identidade e sistema de pensamento. Foi um ato de profunda transformação interna que, apesar da dificuldade, permitiu que sua contribuição singular florescesse para o mundo.
A espiral de desenvolvimento, que conecta o terreno ao universal, o finito ao infinito, dialoga com o Princípio Esperança de Ernst Bloch. O ciclo cósmico, permeado por uma força que impulsiona o ser em direção a um futuro não realizado, mas sempre prometido, transforma a mera repetição em um processo contínuo de evolução e transcendência.
Isabel (07 de dez. de 2025)
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